A estética de "Reduto" vs o conteúdo

 


Um tempo atrás, alguns dias, na realidade, eu li um comentário em relação às webnovelas do YouTube que dizia que as tramas eram prejudicadas pelos capítulos pequenos, onde elas não conseguiam ter profundidade. Apesar de eu achar que isso possa sim ter um fundo de verdade, mais tarde me deparei com uma trama cuja embalagem me chamou atenção: “Reduto”, da JP Studios e escrita por Vinícius Carelli.

Antes de eu expor o que achei da trama, vamos deixar algumas coisas claras. Eu li apenas o primeiro e o segundo capítulo. Eu li a sinopse antes de ler os capítulos, não fui atrás de chamada nem nada, então, toda minha opinião vai estar embasada no primeiro e no segundo capítulo, mas também na sinopse disponibilizada na comunidade do YouTube do canal JP Studios.

Começando pela sinopse. Nela diz que Marcelo foi acusado injustamente de ter abusado de uma menor de idade, então ele teve que fugir para não ser julgado (lê-se morto) pelo tribunal da comunidade em que vivia. Mais tarde descobrem que a pessoa que abusou dessa menor de idade era outro homem. Marcelo não voltou e abandonou Mariana, que estava grávida dele, mas ele não sabia, e sua mãe, Marlene. Logo na sinopse eu quero apontar uma coisa, mas acredito que seja uma questão minha. Para o leitor compreender a história da novela, o autor teve que contar os antecedentes fora da trama porque, pelo menos nesses dois primeiros capítulos que eu li, não é mencionado o crime e como Marcelo fugiu, apenas que ele teve que fugir porque foi acusado injustamente de algo. Pelo motivo da sinopse apresentar informação em off da narrativa, dá a entender que a história teria duas fases. Quando eu li, pensei que a novela teria duas fases, mas não. Já começa vinte anos após o ocorrido.

O autor é bem-intencionado na construção do primeiro capítulo; eu gostei bastante da primeira cena, ela apresenta bem a personagem da Marlene. Por outro lado, ela também simplesmente joga o leitor no meio da história, dá uma sensação de que chegamos com a história andando. Curiosamente, na primeira versão do primeiro capítulo de “Viver de Novo” na ONTV, havia esse mesmo problema. Lembro de ter conversado com o Everaldo na época e ele escreveu mais uma ou duas versões até termos certeza de que a história iria ao ar. Enfim, voltando para Reduto; senti bastante falta de uma explicação nesse primeiro capítulo. Essa carência dos antecedentes prejudica o desenvolvimento.

Uma segunda coisa que também me incomodou no primeiro capítulo é a esposa do Marcelo, Luíza. Eu não consigo compreender como o Marcelo se casou com ela, se ele se apaixonou por ela, se eles são apaixonados, porque não faz sentido um homem que vem de uma origem humilde e, aparentemente, preocupado socialmente, e que foi alvo de uma injustiça, ter se casado com uma mulher que tem falas tão problemáticas assim. Eu até entenderia se o Marcelo tivesse vergonha de ter vindo da favela etc., mas não é isso que o autor demonstra. Eu vi isso como uma inconsistência da novela.

A webnovela também apresenta outras inconsistências. Mais uma vez, sendo chato e batendo nessa tecla de novo, são coisas que seriam resolvidas mostrando o passado, nem que fosse em um flashback. Eu não sei em que condições o Marcelo fugiu, o que ele fez para chegar na posição em que está hoje. Outra coisa, esse desejo dele de ver os pais, uma hora parece que ele não os conheceu e outra hora parece que quer reencontrá-los. Eu sei que é a segunda opção, mas por que o roteiro se confunde nisso?

O que me chamou atenção em primeiro lugar na trama foi sua embalagem. Eu adorei a abertura e gostei bastante do logo, mas o grosso não me agradou. Achei a ideia boa, mas executada de uma maneira equivocada. O autor poderia ter seguido outros caminhos, apresentado a primeira fase, talvez deixado o Marcelo um personagem com mais camadas. Não consigo comprar que ele esteja casado com uma mulher como a Luíza. Bem, no final, fui atraído pela estética, mas o conteúdo não foi suficiente para me prender.


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