O que é “clássico”? Segundo o dicionário, clássico é algo que está de acordo com os cânones ou usos estabelecidos com um ideal tradicional. Ou é relativo às artes, literatura ou a cultura da Antiguidade greco-latina. Também podemos dizer que clássico é uma obra de arte, aqui vamos focar na literatura que é o tema do blog, que conseguiu deixar sua marca na História. Passou décadas desde sua primeira publicação e ainda assim essa história, esse Romance ou essa Poética, ainda influencia, direta ou indiretamente, leitores e autores.

Eu poderia dizer assim “Ler obras clássicas é importante porque são clássicos”, mas isso seria chover no molhado porque ler obras ditas como clássicas vai muito além de apenas ler elas, primeiro que você precisa ter uma certa bagagem de leitura para ler algumas e para ler outra é preciso ter tempo. Então, para deixar esse texto mais fácil de ser escrito e talvez entendido, vou descrever dois “tipos” de obras clássicas que vejo através da minha visão de autor. Lembrando que isso é uma classificação minha e dificilmente você vai encontrar algo parecido em um trabalho acadêmico, então, não é uma classificação oficial. Quem sabe um dia vire depois do meu mestrado ou doutorado. Isso se eu quiser fazer.

Existem clássicos que possuem narrativas que ainda influenciam a forma de se contar uma história, são formas de narrar uma história que mudou o que havia sido construído antes e isso acontece por N motivo, mas não influenciam apenas na narrativa no sentido de que palavras, verbos, adjetivos e sentenças usar para se construir uma história, mas também outros elementos, na personalidade dos personagens, em como montar um gênero especifico. O autor pode ter entrado em contato com algumas dessas obras lendo elas, o texto integral porque algumas podem ser folhetins (O Conde de Monte Cristo) ou, então, por meio de adaptações contemporâneas a eles. Exemplos de obras dentro dessa classificação: Romeu e Julieta, Édipo Rei, Hamlet, Orgulho e Preconceito e entre outras.

E há outras obras clássicas que, de alguma maneira, ainda impactam e continuam relevantes mesmo após décadas ou séculos de sua publicação por causa da sua relevância social, pois em seu tempo abordaram assuntos espinhosos e esses mesmos assuntos continuam espinhosos até o momento, geralmente obras com alguns aprofundamentos psicológicos. Alguns exemplos: A Hora da Estrela, Como Matar um Tordo, Vidas Secas e etc.

Romance de Aluisio de Azevedo

Creio que é importante para um jovem escritor, um escritor iniciante, ter a experiência de entrar em contato com essas obras, não precisa ler necessariamente todos, mas ter noção da história, de como foi montada a narrativa, do contexto histórico que são os motivos do porque dessa história ser da maneira que é. Também saber o que já foi feito dá ferramentas necessárias para se construir algo “original”. Original entre aspas porque também acredito que em um mundo globalizado e capitalista é mais difícil empregar algo original, parece que tudo já foi feito e o que tentam vender como novo também não é novo e não é a primeira vez que isso acontece. Por isso é importante conhecer, pois uma escola literária rompia com a outra e atualmente vivemos uma pluralidade de escolas e nichos muito específicos de literatura.

Os processos vão além de ler, nem precisa ser o primeiro passo, mas estudar a obra é necessário. Se fazer perguntas como “Por que ‘O Retrato de Dorian Grey’ continua relevante?”. É por causa de sua narrativa? Por causa da sua construção estilística, já que Oscar Wilde acreditava que a arte deveria ser bela e não política? E por qual motivo Machado de Assis é dado nas escolas como “Realista” sendo que a narrativa que ele emprega em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” não se encaixa em uma narrativa realista? Ler os clássicos é exercitar essas questões, mas o mais importante é fazer com que você, autor se desapegue de um mal atual do mundo literário. Que sãos as definições comerciais do que é o Romance ou do que é um Conto.

 

Ter contato com um clássico é ter contato com uma literatura mais livre, no meu ponto de vista, menos comercial porque essas obras, por suas maiorias, foram escritas por pessoas que não estavam preocupadas especificamente em lucrar, óbvio que queriam fazer dinheiro, mas alguns desses autores já possuíam o bastante para viverem. Claro que existiram aquelas que queriam a fama, a fortuna, como foi o caso de Alexandre Dumás que aproveitou bastante o seu sucesso em vida, afinal suas obras de folhetins como “O Conde de Monte Cristo” lhe renderam rios de dinheiro e aumentaram as vendas dos jornais com quais ele colaborou. Hoje em dia eu vejo uma literatura muito regrada, autores novos sempre perguntam “Quantas páginas meus capítulos tem que ter para ficarem bons?”, “Quantas páginas meu livro tem que ter para ser considerado um livro?”. Isso acontece porque se criou regras e mais regras em cima de um gênero, o Romance, que é um gênero inacabado. O Romance se adapta a sua época, cada época teve uma maneira de escrever um livro, de se fazer literatura. Sim, estou usando literatura, livro e Romance como sinônimos nesse texto.

Não se apegue a definições que podem mudar daqui dez anos, escreva sua história como você sentir que ela deve ser. Revise você, dê a um terceiro para revisar, o texto precisa ser lapidado aos poucos para você chegar ao resultado. Não se importe se lá no passado fulano fez assim também, pois com certeza fulano bebeu de uma fonte que fez uma história parecida, vocês estão compartilhando da mesma fonte criativa. Mesma fonte que outra pessoa anterior já bebeu e etc.

Estar no curso de letras me ajudou bastante a enxergar essas coisas, mas porque eu tive um processor que realmente entende de literatura e sabia do que estava falando em suas aulas. Estou aqui, tentando transmitir um pouco do conhecimento que ele me deu com minhas palavras, talvez eu esteja fazendo isso errado? Provavelmente, mas eu sinto que alguns escritores precisam ouvir e entender certas coisas. Pessoas se apegam demais a convenções e literatura não deve ser guiada por uma convenção. Decidi fazer minha literatura pelo meu modo, contando as histórias que eu quero contar e construindo elas da maneira que eu quero construir. Não me importo em não ser o escritor A-List da New York Times, eu estou bem em poder contar as histórias que quero contar.

Para finalizar esse texto, vou deixar uma recomendação para o escritor, mas também para o leitor. Leia Mikhail Bakhtin, o filósofo do diálogo. Escritor ou roteirista, acredito que para quem se utiliza da escrita para forma de arte é importante conhecer o trabalho desse filósofo.