Uma nova visão para a clássica peça de William Shakespeare
Um tempo atrás eu escrevi para esse blog um texto onde eu refletia sobre a originalidade (Como podemos definir originalidade?), onde eu disse que desde que o ser humano aprendeu a se comunicar, todas as histórias que contamos são as mesmas, talvez não com essas palavras e lembro de ter citado exemplos da antiguidade e também ter usado, por coincidência, Romeu e Julieta. O Romance que vou comentar hoje não se trata de uma história totalmente nova e nem de longe de uma ideia completamente original, até porque não é a primeira vez que alguém pensa em pegar a ideia de Romeu e Julieta (de Shakespeare) e transformar em uma trama LGBT.
“Romeu & Valentim”, como adiante no parágrafo anterior, se trata de uma releitura da história de Romeu e Julieta, mas não da maneira que você espera. Nessa história apaixonante e com ótimas cenas de lutas, o autor Caleb Roehrig, traz uma visão interessante sobre a clássica história de amor. Eu vou chamar nesse texto de releitura porque eu não considero uma adaptação ou uma versão gay da história clássica porque, para ser uma versão de Romeu e Julieta, o par romântico do Romeu teria que ser uma contraparte masculina da Julieta, mas nessa história ela é uma personagem, entenderam? Espero que sim.
Romeu Montéquio é o único herdeiro de seu pai, um jovem preso aos seus deveres e que tem até o final do verão para virar aprendiz do seu pai e escolher uma garota para ser sua esposa. Seu primo, Ben, está decidido a fazer com que ele tenha um romance com alguma garota nesse verão. A rivalidade entre as famílias Montéquio e Capuleto continua nessa releitura, mas não se coloca como obstáculo para nosso protagonista como na peça em qual o autor se baseia, aqui, apesar do par romântico de Romeu ser um jovem encantador chamado Valentim, a figura de Julieta continua, mas de maneira diferente. Assim como Romeu, ela é vítima da sua família e deseja ser livre, o quanto antes porque seu pai quer entregar sua mão ao ambicioso Conde Páris que apenas vê sua fortuna. Não vou entrar em muito detalhes sobre a história em si, mas achei interessante a construção proposta pelo autor.
O começo do livro é cansativo e arrastado, eu tenho que admitir, apesar de depois que engatei na leitura, terminei de ler em apenas três dias. Como bem sabem, meu último texto aqui no blog foi sobre “Olhai os lírios do campo” e isso foi em Abril, apenas agora em Agosto que consegui superar os primeiros capítulos da história. Enfim, mas vale muito a pena porque você vai conhecer uma história que reconta um grande clássico de uma maneira interessante, dando mais camadas a esses personagens.
Uma das coisas que mais me surpreendeu foram as cenas de ação, não posso dizer pelo o original em inglês, pois não li, mas a tradução fez um trabalho excelente. As cenas são descritas de maneira ágil, não são cenas de lutas cansativas de se ler e você consegue perceber bem o que os personagens estão fazendo no momento, qual ação estão realizando e como estão reagindo aos golpes.
Como eu disse, os personagens ganham uma camada a mais nessa releitura, porém a personagem que se torna mais interessante, sem sombras de dúvida é a Julieta, talvez por aparecer em momentos chaves da narrativa, mas a sua personalidade muito diferente da personalidade da peça de William Shakespeare, é afiada, sarcástica, inteligente e bem-humorada. Apesar de ser o protagonista da história, Romeu é um personagem interessante, você consegue se conectar a ele, mas eu acredito que faltou algo a mais, não sei explicar o que faltou para eu gostar ainda mais dele. Sua personalidade não é ruim, porém faltou um tempero. Por outro lado, seu primo Ben e o seu amigo, Mercúcio (que por algum motivo eu li, até a metade do livro, Mercúrio) são interessantes, eles trazem muita luz às cenas em que estão com o protagonista.
O personagem Valentim tem uma história interessante, um background que comunica com suas decisões no tempo presente da história, mas assim como Romeu, senti falta de alguma coisa a mais na sua personalidade. Eles são personagens ruins, mas são personagens que ficam no nível mediano. Não me irritaram, como a Claire de Cidade dos Ossos e nem me agradaram muito como outros romances que li. Eles apenas estão ali, apesar de serem os dois pontos importantes da trama.
“Romeu & Valentim” é um livro bom, ele não é ótimo, quando você terminar ele vai apenas constatar que o terminou de ler, mas não é o tipo de livro que eu não recomendaria. Se me pedissem uma dica de leitura, não seria o primeiro título a minha mente, mas se alguém me perguntasse se deveria ler, eu responderia que sim porque a ideia é interessante, a maneira que foi construída e a forma que o autor escolheu de fazer sua versão LGBT de Romeu e Julieta é interessante. É um livro bom.

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