Alguns dias atrás, encerrou no Estúdio Webs a novela teen “Acesso”, escrita também pela presidente Liz Santos. Na trama, o leitor acompanhava a história de Amélia, uma jovem adolescente que saiu de Salvador para encontrar sua mãe, mas no caminho acaba cruzando com um novo amor e também com a namorada do rapaz. Eu já tinha escrito um texto analisando a trama logo quando a mesma começou, mas agora estou aqui com meu balanço final depois de acompanhar toda a trama.

 

Dizem que um bom escritor ele não apenas inova, não cria algo original... Quando dizemos original, algo como uma assinatura que, quando colocamos nossos olhos no texto, nos personagens e trama, percebemos que se trata de uma história desse autor. Um bom escritor ele não é apenas limitado a isso, mas também deve saber fazer muito bem o básico. Um arroz com feijão. Nunca li nada antes escrito pela Liz Santos, mas em “Acesso” ela demonstra saber fazer o básico, mas na minha opinião ela criou uma esfera perfeita para ir além do básico e se arriscar mais.

 

A história de sua novela não é ruim, muito pelo contrário, mas talvez ela tenha sido explorada de maneira rasa. Por exemplo, a história da protagonista é muito forte e renderia mais capítulos, mas a ideia não era ser uma história longa, então, renderia mais cenas. Alguns personagens que fazem parte dessa trama maior foram mal aproveitados, eu gostaria de ter visto mais da Alessandra. Ela é uma personagem com um passado perfeito a ser explorado, assim como sua personalidade. Talvez, a autora poderia ter se baseado em “O Privilégio de Amar” para construir melhor sua Alessandra, ela lembra muito a personagem defendida por Helena Rojo no melodrama da Televisa.

Rafaela também é uma personagem muito boa e sua função de vilã foi pouco trabalhada, acredito que ela renderia muito mais e ela é a personificação desse arquétipo de personagem que fazia muito sucesso em Malhação. Ainda mais que ela é irmã de Amélia, como o leitor já sabia desse fato, a autora poderia ter criado situações ao redor desse plot, criando situações onde as duas seriam colocadas lado a lado e alguém perceber que elas tinham alguma semelhança.

Gosto da ideia da Rafael ter se arrependido, bem entre aspas, depois de descobrir que Amélia é sua irmã, mas ter se arrependido muito mais pelo abandono causado por sua mãe do que pela Amélia em si. Faz sentido. Porém, como eu disse, sua função de vilã deveria ter rendido um pouco mais.

 

Eu fiquei genuinamente surpreso de forma positiva com o desfecho de Miguel, Lucas e Samanta. Só que mais uma vez, poderia ter rendido mais. Eles ficaram muitos capítulos se pegando escondidos, acho que a descoberta deveria ter sido antecipada dois ou quatro capítulos atrás e a autora ter explorado essa relação a quatro. Samanta era uma personagem ótimo, ela tinha umas falas divertidíssimas e a que mais gostei foi de quando ela tirou uma péssima nota na prova. O engraçado é que no dia que li esse capítulo, eu estava na aula de revisão de Introdução aos Estudos Linguísticos e a sensação que eu tinha com essa prova era a mesma de Samanta. Bem, diferente dela, eu tirei 9.5 na prova. Só queria um momento de gabação minha mesmo.

 

Sobre a Lia e o Diogo, acho que a autora foi por um caminho seguro e tudo bem. Ao meu ver, nesse plot ela tinha duas escolhas. Fazer o que ela fez do jeito que foi feito ou, então, introduzir um novo par romântico para Lia e fazer o Diogo sofrer. Claro que não dava tempo de fazer isso, então, foi tudo pelo mais seguro e eu acho que funcionou. Só que, eu gostaria que esse personagem tivesse sofrido muito mais do que ele sofreu. Foi pouco.

 

Eu não gostei do final de Amélia e do Samuel... Mas não é uma questão de ter sido ruim ou não, mas é mais porque eu tive a sensação de que eu não terminaria daquela forma. Eu acho que a autora poderia ter deixado a Amélia no Rio de Janeiro, todos os personagens com seus finais e também com uma abertura para continuação. No chat da Felipa, a Liz já disse que vai ter mais temporadas em 2024, mas pelo jeito que terminou essa, não acho que venha com esses mesmos personagens. Como eu disse, essa temporada teve a sensação de que todos os plots renderiam muito mais e realmente, poderiam.

 

Eu deixaria a descoberta da maternidade de Amélia para o final da temporada, na segunda temporada eu resolveria essa situação e se a ideia fosse dar redenção a Rafael, talvez introduzir uma nova vilã ou fazer o ex-namorado de Amélia fazer mais coisas do que ele fez na sua rápida participação.

 A primeira temporada de “Acesso” se encerra com o básico feito muito bem, como eu disse no primeiro texto, é uma história despretensiosa ótima para quem quer se entreter. No fundo, o MV e a literatura em si também é sobre isso, nem tudo precisa ser uma grande filosofia reflexiva sobre a vida e a sociedade. Só que, apesar de bem feito, deixou um gostinho na boca de que tudo poderia ter sido maior, mas foi uma jornada ótima de ser acompanhada.