Quando eu escrevi "Poeiras Estelares" e "Eu Lembro de Você"

 

Lá por 2015, não lembro exatamente quando, mas eu ainda estava no ensino médio, então, deve ter sido pelo começo ou metade do ano, tive uma ideia.

Como seria uma história de reencarnação e paixões de outras vidas se reencontrando, igual aquelas de novelas das seis horas, tipo “Alma Gêmea” ou “Escrito Nas Estrelas”, mas ao invés de ser um casal hétero, os protagonistas serem um casal homossexual?

A partir dessa ideia, comecei a pensar na história que futuramente se tornaria “Poeiras Estelares” e em seguida “Eu Lembro de Você”.

 

Quando pensei nessa história, pensei em criar dois livros em um. O primeiro livro contando a vida dos personagens no passado e o segundo, na encarnação atual. Isso é curioso porque é muito parecido com a novela “Além do Tempo”, mas nessa época eu não acompanhava muito o que tava rolando na televisão, então, eu só fui tomar conhecimento dessa novela quando a primeira fase estava se encaminhando para o final e comecei a assistir para ver como a autora, Elizabeth Jhin, tinha feito essa construção de duas novelas em uma só. Também queria entender como eu poderia fazer isso em um Romance, pois na época eu ainda não tinha vontade de escrever webnovelas, não sabia o pouco que sei hoje sobre roteiro, porém já tinha conhecimento sobre o MV.

Acho interessante a gente pensar em como algumas ideias são jogadas no universo e simplesmente compartilhdas.

 

Escrevi alguns capítulos da primeira fase dessa história. Foi aí que eu tive a ideia de trazer a conexão Brasil e Japão, se eu não me engano na época tava rolando uma comemoração de mais de 100 anos da imigração japonesa para o Brasil e também foi numa época em que eu descobri os doramas japoneses, lembro até hoje de uma série que eu assisti só uma vez, o título era “Last Friends”, nunca reencontrei para assistir. Eu também fiquei pensando sobre como o Brasil tem a maior colônia de japoneses fora do Japão, mas eles não tem espaço nas histórias que nós contamos.

Enfim, como eu estava falando, tive a ideia de trazer essa relação entre Brasil e Japão para a história do Romance, então, comecei a pesquisar trabalhos acadêmicos, vídeos no YouTube, tudo que eu podia ter acesso na época para construir a trama da segunda fase, então, cheguei até uma história bem folhetinesca de uma família em um Japão que estava deixando a era feudal para trás, eles estavam prestes a perder as terras para o banco, mas a filha mais velha podia salvar a família se aceitasse se casar com o homem rico que a cortejava. Ela aceitava se casar, mas no mesmo dia o pai contava para todos que eles iriam para o Brasil, ela acompanha sua família até o Brasil, onde se apaixona pelo filho mais novo do dono da fazenda e vice-versa, mas, para sua surpresa, seu noivo vem do Japão para cobrar sua dívida.

Apesar de eu não estar pensando em uma webnovela, vocês podem ver que o folhetim já estava aí, bem eu acho que posso dizer que o folhetim sempre esteve presente na minha escrita, não posso negar. Não é à toa que mais tarde fui atrás de folhetinis na integra, como “O Conde de Montecristo”, mas isso é assunto para outro texto.

 

Eu não tenho mais esses textos, mas eu lembro que desenvolvi tudo rapidinho até a menina chegar ao Brasil e foi aí que eu comecei a empacar na escrita, não sabia como continuar. Então, enquanto essa fase estava em standby, decide pensar na segunda parte da história, que se passaria nos dias atuais, mas não quis especificar a época para não ficar datado. E também não consegui levar a história adiante, não sabia como conectar os protagonistas, pois eu queria fazer o que na época os mangá e fanfics BL faziam que era um cara que só tinha se relacionado com meninas de repente se apaixona por um rapaz, porque nessa história que eu estava desenvolvendo teria uma explicação “lógica” para isso, eles seriam almas gêmeas, mas a menina acabou reencarnando no corpo de um rapaz. Quebrei a cabeça e não consegui resolver isso.

Acho que foi perto de eu pausar a escrita dessa trama que eu decidi mudar de nome por causa de outra novela. Bem, o primeiro título que eu pensei foi “Sol Nascente”, por conta da história envolver essa conexão entre brasileiros e japoneses, mas aí quando a Globo anunciou aquela novela ofensiva de mesmo nome, decidi mudar. A história ficou por muito tempo dentro das minhas pastas do antigo notebook com o título “Fio Vermelho”, por causa daquela lenda asiática de que as pessoas que são uma espécie de almas gêmeas são conectadas por um fio vermelho que é invisível aos olhos dos humanos.

Bom, pausei a escrita dessa história e fui fazer outras coisas. Aí apareceu a oportunidade de criar o Anjo Noturno, que vai ser uma história para outro texto. Escrevi alguns contos para publicar direto na Amazon e ganhar, literalmente, alguns centavos. Também criei “Caminho Único” para a ONTV, assumi como administrador do site quando o Jaime ficou ocupado demais com a universidade, as coisas foram acontecendo. Escrevi “Meu Mundo Caiu” para a Megapro e etc.

 

Eu gostei muito de escrever “Meu Mundo Caiu”, desde que entrei de fato do MV como autor, eu queria escrever uma webnovela até o final, a gente sabe que com “Sangue & Esplendor” eu não tive sorte. Fiquei com essa vontade de fazer uma história completa para ONTV, mas ela não podia ser grandiosa como eu tentei fazer com S&E porque eu sabia que eu não daria conta, na época eu não era bom com prazos, ainda não sou, mas consigo me virar. Aí eu entrei nos confins de pastas do meu notebook e encontrei a pasta que guardava essa história. Lembro que eu também queria fazer um remake de Selva de Pedra da Janete Clair para a ONTV, mas não levei pra frente porque eu não tava gostando de escrever, porém a ideia de fazer isso foi importante para eu trazer Fio Vermelho como “Poeiras Estelares”.

Como eu queria usar só a trama da Simone e do Cristiano nessa minha versão de Selva de Pedra, mas com a Simone sendo Samuel, eu mudei várias coisas e uma dessas coisas era que uma das ambientações da webnovela seria uma universidade privada que faria parte das empresas que era da família do tio de Cristiano. Como eu não tava gostando de escrever essa versão de Selva de Pedra, então, resolvi levar essa ambientação de universidade para a trama de Fio Vermelho que aos poucos se tornou Poeiras Estelares.

Aliás, o título “Poeiras Estelares” vem daquela história de que os humanos são feitos de poeiras das estrelas porque a gente compartilha não sei quanto por cento de composição, enfim.

 

Com essa ambientação da universidade, consegui pensar melhor na fase nos dias atuais da trama, mas eu ainda estava com dificuldade de pensar na trama da primeira fase porque eu percebia que a história não tinha fôlego para se sustentar por si só, eu teria que inventar algumas tramas secundárias para a história se sustentar, mas eu não queria que tivesse outras ligações entre o passado e o presente sem ser o casal protagonista.

Assisti uma série tailandesa chamada “Until We Meet Again” em tradução livre “Até Que Nos Encontremos de Novo”. A história era basicamente quase igual à que eu estava fazendo, mas aqui por se tratar de um BL, nas duas fases eram casais gays e também tinha toda a questão das crenças tailandesas se fazerem bem presente na construção da reencarnação e nas lembranças da vida anterior dos protagonistas. Só que aqui a história não era dividida em duas fases, a vida anterior dos personagens apareciam como cenas no meio do episódio, mas eram cenas que mostravam uma informação que seria importante para o desenvolvimento da história. Pensando assim eu consegui levar a minha webnovela adiante.


 

Depois dessa contextualização do que estava por trás da ideia, vamos entrar na trama em si. Queria falar sobre alguns personagens e histórias, mas só dos que eu tenho mais memória os que, apesar de quatro anos depois, ainda estão frescos na minha mente.

 

Queria começar pela Sandra, a vilã da história que na verdade não é uma vilã. Bom, quando eu pensei nessa personagem, logo eu entendi que ela traria uma problemática que já estava acontecendo entre as séries BLs da Tailândia. Quando tem uma personagem mulher nessas séries ou ela é a melhor amiga de um dos protagonistas ou, então, ela é a vilã ex-namorada maluca porque não tem outra função para meninas nessas séries, hoje em dia está diferente. Eu queria dar uma volta nessa problemática porque a Sandra, dentro dessa trama, é uma personagem bem interessante porque ela tem camadas, diferente de outros personagens e dos protagonistas. Ela tem um histórico de depressão, o pai ela se suicidou, ela é bastante apegada na vida de luxo que leva e também na sua relação com Henrique, um dos protagonistas da webnovela. Só que na sua essência, apesar de ser fútil, ela nunca foi uma pessoa ruim e eu deixo claro isso para os leitores da novela no momento em que essa transformação em vilã começa acontecer. Quando eu pensei na história dela, eu pensei assim, ela é uma pessoa que tem o psicológico doente, então, tem sua mente mais acessível para espíritos a exercer uma influência nela. Ao meu ver, como autor, acho que isso deixa ela interessante e até mesmo torcível, eu sei que tinha gente que torcia pela Sandra e, de vez em quando, eu também.

Como ela estava sob influência de um espírito obsessor, tinham bastante cenas que eu gostava de escrever que eram cenas dela enfrentando o Samuel ou o Henrique, ela falando sozinha ou com esse ser espiritual. Como ela era uma vilã com um tom acima em comparação aos demais personagens, eu tinha muita liberdade em poder voar bem alto com a Sandra e eu gostava disso.

 

Não é que eu não goste do galã da trama, vulgo Henrique, mas eu fiz um personagem tão sem personalidade. Bem, isso se torna recorrente nas minhas webnovelas e vocês vão perceber isso, mas esse foi o primeiro. A história dele era até interessante, mas toda vez que eu escrevia uma cena com ele ou com ele falando, bom, eu sentia que faltava alguma coisa e até hoje não sei, talvez eu tivesse dado mais tempo para sua história com o sentimento que ele tem pela universidade criada pelo avó ou, até mesmo, ter colocado ele logo para trabalhar com o pai e se envolver mais nas histórias dentro da empresa. Bem, acontece que faltou um tempero a mais nesse personagem, mas eu também acho que ele tem momentos interessantes. Como quando ele decide romper o noivado com a Sandra, ele nunca foi apaixonado por ela, estava se casando por interesse e ela sabia disso. Bem, vamos explicar a história para quem não leu.

Quando a webnovela começa, a família de Henrique não tem todas as ações das empresas porque uns anos atrás, quando a universidade fundada pelo o avô dele, e que era seu negócio dos sonhos, quase faliu todo o grupo de empresas, eles tiveram que vender algumas ações e assim mais pessoas ganharam o poder de decisão. Uma dessas pessoas era o pai de Sandra que quando faleceu, ele deixou suas ações para ela. Se Henrique se casasse com ela, essas ações iriam para a família Barreto e assim eles teriam mais peso na hora das decisões.

Basicamente o Henrique iria se casar porque sabia que a Sandra gostava dele e que com essas ações, poderia salvar a universidade de ser sucateada de vez.

Ele tem esses momentos interessantes, eu gostava de escrever as interações dele com o Samuel e o universo ao redor do Samuel, até porque quando eles estão juntos, esse personagem se torna outra coisa porque até aquele momento, o Samuel é a primeira pessoa por quem Henrique se apaixona, trazendo todo aquele enredo clássico de BL, mas aqui com uma roupagem diferente e mais mastigável, eu acho. Ele tem noção de que há alguma coisa entre os dois, mas ele não sabe o que é, ele tem sonhos iguais aos do Samuel e essas pequenas coisas não deixam o personagem ser totalmente desinteressante, mas eu poderia ter investido mais nele, ainda mais por ser um dos protagonistas.

 

Eu geralmente gosto dos heróis que escrevo, aqui herói como sinônimo de mocinho e protagonistas.

Quando é uma história totalmente original da minha cabeça, quando eu não invento de fazer remake em formato de webnovela, geralmente os mocinhos e heróis tem alguma coisa de mim. No caso de Samuel ele tem o discurso de só quero viver uma vida confortável. Ele está fazendo faculdade, ele sabe que quando se formar ele vai herdar o mercado de produtos orientais de sua mãe e ele tá bem com isso, ele não quer ir além e não se deslumbra com o luxo da família de Henrique. E isso é um pouco de mim.

Talvez se eu fizesse essa história atualmente, provavelmente esse personagem seria uma pessoa mais atormentada porque ele tem esses sonhos com a sua vida anterior se suicidando para fugir de um casamento. Se eu tivesse esse sonho de forma recorrente, acho que eu ficaria maluco. Ele também traz um pouco daquela coisa de mocinha de telenovela açucarada, ele é um pouco inocente, ele é amigo de todo mundo. Isso acaba trazendo coisas legais para a trama também, como sua amizade com a Sandra antes de ela descobrir que foi por ele que o Henrique a deixou.

Aliás, isso é uma coisa que talvez eu fizesse diferente atualmente, faria a fase em que os dois são amigos maior para ter mais impacto a descoberta.

Acho que eu não tenho muito o que falar do Samuel porque ele é um personagem sem muitas camadas, as camadas dele estão nessas lembranças de vida passada, no seu ceticismo, na sua vontade de viver um grande amor. Pensando agora, enquanto escrevo, ele tinha um pouco disso mesmo, acho que bem no subtexto, bom, agora eu não lembro, mas devo ter colocado em alguma fala uma coisa relacionada a isso. Antes de ele conhecer o Henrique, ele teve vários namorados e eu lembro que deixo isso claro nas troca dos personagens, mas o que ele amou de verdade foi esse cara.

 

Gente, eu tô na quinta lauda. Acho que o texto tá um pouco longo demais. Vamos encerrando?

 

Para encerrar, como eu disse lá no começo, lá em cima, primeiro venho “Poeiras Estelares” e depois “Eu Lembro de Você”. Lembrando que quando eu tive essa ideia, eu queria ter escrito um Romance, mas transformei em roteiro para a ONTV porque eu sentia a necessidade de entregar algo completo depois de fazer MMC na Megapro.

Assim que terminei a webnovela, acho que levou um tempo, não sei direito quanto que foi, mas eu comecei a adaptar esses roteiros para o literário.

Como se trata de um Romance, um livro, eu não podia colocar tudo que tinha no roteiro porque se não iria ficar muito confuso, imagina? Se eu colocasse todas as tramas secundárias da Sandra, dos amigos do Samuel, da empresa e de dentro do mercado. Então, escolhi focar no Samuel e o leitor acompanhar a história por ele. Com isso os 33 capítulos da webnovela se tornaram 10 capítulos no livro e isso porque eu resumi a fase final da webnovela.

No final da versão em roteiro, Samuel, Henrique e companhia vão para o Japão. Porque a avó do Samuel ficou toda a novela falando que queria voltar ao país, sentia saudades e etc. Sandra vai atrás deles e sequestra o Samuel, eu quis fazer isso porque sentia que essa história precisava desse final bem cliché de novela. No Romance eu cortei isso porque eu queria fazer uma coisa diferente e também porque o final eu só escrevi depois que entrei no curso de letras português.



Como se tratava de um Romance, eu queria deixar uma coisa finalizada, mas aberta. Todo o grosso da história tem nessa versão, tem as passagens sobre a vida passada dos personagens, tem a Sandra sendo influenciada, tem tudo isso, mas construído de uma maneira diferente e que eu acho que ficou bom também porque foi meu primeiro ebook que eu investi dinheiro nele. Eu paguei revisão e copidesque, eu paguei ISBN. Se vocês quiserem ler, está na Amazon com o título “Eu Lembro de Você” porque eu achei que “Poeiras Estelares” não seria um bom título para o ebook, na verdade não é um bom título para webnovela também, eu admito, mas na época na minha cabeça fazia sentido. E também fazia sentido a universidade se chamar Janete Clair, que é uma coisa que eu mudei na versão literária, é Universidade Barreto.

 

Cinco laudas e quase indo para a sexta, eu vou encerrando aqui. Até o próximo texto e se vocês quiserem ler “Poeiras Estelares”, a webnovela, vai estar de volta na ONTV a partir do dia 29/01 com atualizações segunda, quarta e sexta, sempre a partir das 16h.


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