Dialogismo é um conceito do círculo de Bakhtin,
filosofo estudado nos cursos de letras por causa dos seus estudos voltados para
linguística. Num resumo a curto modo e bem grosso, o dialogismo diz que todo
enunciado emitido por um ser falante, no caso uma pessoa, um humano, ele vem
carregado de outros discursos que por sua vez também estão cercados por outros
discursos. Um pouco complicado, mas o que eu quero abordar aqui não é muito bem
o dialogismo, entretanto é um assunto parecido.
Desde que eu conheci o MV, eu percebi uma coisa que,
no princípio me incomodava bastante, entretanto hoje em dia não mais, passei a
ver com outros olhos. Desde lá o Belas Histórias que algumas webnovelas só
existem porque um tema específico está passando na TV Globo no horário nobre,
às vezes não necessariamente no horário nobre, mas tem essa forte influência do
plim plim em alguns autores que veem aquele produto como um exemplo de uma boa
história. Isso é ruim? Depende, não quero entrar nesse mérito aqui, ao
contrário, a minha ideia aqui é fazer essa reflexão. Até por isso eu usei o dialogismo
bakhtiano como chamariz ou como uma ideia, enfim, o que vocês preferirem.
Continuando, esses autores recebem influência muito
grande da Rede Globo e do que está passando no horário nobre que acabam
produzindo histórias com um texto pobre e mal desenvolvido porque eles querem a
tudo custo emular o que está passando na televisão. Vejam bem, é diferente você
buscar referências em tal autor, em tal história ou você adaptar uma novela
antiga para webnovela. Atenção no termo adaptar, pois eu estou pegando uma
mídia (no caso a telenovela) e trazendo para o MV (como webnovela), não é mais
remake, é adaptação. É diferente você querer fazer isso com uma novela antiga
ou com um livro, com uma série, conto ou filme, estou falando aqui de histórias
que não possuem nada de novo pra contar e só querem surfar na onda de uma outra
história que está fazendo sucesso na televisão.
A primeira vez que eu vi isso, foi na época em que
estava passando Insensato Coração na Rede Globo e ainda existia o Belas
Histórias se eu não me engano e outros sites e blogs do MV que hoje em dia já
foram. Eu lembro de ter visto muitas novelas com títulos e sinopses muito
parecidas com algumas histórias da obra de Gilberto Braga. Principalmente na
história da Norma, aí os títulos eram assim “Insensato Amor”, “Coração
Insensato”, “Insensata Paixão” e por aí vai.
Também exemplos mais recentes, quando estava passando
Pantanal, brotou muitas histórias no YouTube de webnovelas que se passavam no
interior do interior do Brasil, a gente via que os autores se esforçavam muito
para copiar Pantanal porque colocavam onça onde não tem ou tentavam trazer um
misticismo que não sabiam trabalhar e também não sabiam trabalhar o tema rural
porque essas novelas do Benedito Ruy Barbosa mostra muito bem o homem do campo,
mas esses autores não sabiam fazer isso porque eles só queriam copiar.
Mais uma vez, é diferente de você adaptar ou buscar
inspirações em uma obra que já existe. Aliás, eu sou a favor de adaptações no
MV, seja de Romances ou novelas mais antigas porque, por exemplo, um autor vai
escrever sua primeira webnovela e ele não sabe nada sobre como contar uma
história, ele tem menos chances de errar se estiver encorado em uma história
que já existe. Pega o seu filme favorito, seu conto, um livro ou abre o
Wikipédia e puxa a sinopse de uma novela Vicente Sesso, do Lauro Cézar Muniz e
escreve em cima daquilo. É como se fosse um exercício. Eu de fato aprendi a
escrever webnovela adaptando o Romance “Maurice” de E.M. Forster para “Meu
Mundo Caiu”.
Esses exemplos que eu dei são de histórias que
copiaram por copiar, para tentar ganhar view e like em uma coisa que faz
sucesso na televisão. Você fazer isso deixa seu texto pobre e porco, pois você
vai escrever sem tesão, sem amor a história que você vai contar e quando você
escreve com empolgação, o leitor vai ler com empolgação.
Como podem ver, no final eu não falei nada sobre
dialogismo de Bakhtin, mas usei esse conceito para chamar essa reflexão que eu
já queria fazer faz tempo.
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